segunda-feira, 30 de abril de 2012






VIAGEM À EUROPA  -  18.5.1998 a 20.5.1998  - ALPES 10ª. Parte
( Elsa Caravana Guelman e Izidoro Soler Guelman; Leila de Fátima Rocha Caravana e Ary Lima Filho)




                                         BRUGES   -  Foto:arquitecturamovel.blogspot.com





Depois de uma viagem cheia de surpresas e descobertas, passando por paisagens que diferiam de um lugar para o outro, chegamos a Bruges. Sempre  a mesma luta em tentar conseguir um bom hotel em boa localização para não se perder tempo com distâncias longas. O carro deu muitas voltas pelo centro da cidade e, quando menos se esperava,  apareceu o hotel, simples, aconchegante e numa rua perto da Grande Place de Bruges. Realmente, o Hotel Voermanshuys ficava muito bem situado no coração da cidade velha, rua Oud Burg, onde todos os acontecimentos sociais e culturais acontecem, diariamente, e onde estão localizados os restaurantes mais significativos de Bruges.






Descrever Bruges é revelarr uma cidade harmoniosamente sóbria, encantadora, ativa e que soube guardar sua identidade.  A idade de ouro de Bruges  ocorreu no século XIV, quando se tornou o centro comercial mais importante da Europa, com um nível de vida muito elevado, provocando uma afluência de artistas e estrangeiros.A  ligação com o mar tornou-se sua artéria vital no  desenvolvimento econômico e cultural. No século XIII a industria têxtil se iniciava, e Bruges já era produtora de lã e tinha comércio ativo com a Inglaterra. Essa parceria fez de Bruges, com o passar dos anos, uma cidade  rica e poderosa com  grandes mercadores da cidade. Esse comércio atraiu outras cidades, tornando o porto de Bruges um dos mais movimentados pelos inúmeros navios que  ali passaram a atracar em busca de mercadorias.




.(Bruges é uma típica cidade medieval. Eu ansiava por conhecê-la melhor, Em 1995, quando visitei a Bélgica, ela fez parte do roteiro. Não consegui filmar o passeio de barco, pois a bateria falhou. Agora, então, estava decidida a ver o mais que pudesse, porque era uma oportunidade única. Nem acreditava que, chegaria lá, que o carro andaria pelas ruelas, sem conhecimento do local, dos hotéis até que uma verdadeira joia muito bem foi localizada: um hotel na parte antiga, histórica, da cidade. Fiquei na janela olhando a rua e vendo as casas que mais pareciam de brinquedo, de sonho. Mas não eram de sonho, nem de brinquedo, pois em muitas delas funcionavam os prédios públicos da cidade.Eu me recordo do trajeto que fazíamos do hotel à Grande Place. De ambos os lados da rua,  os prédios, muito bem preservados, alinhados pareciam aguardar a nossa passagem. Era um caminhar solene por entre aquelas construções medievais que tantos segredos guardavam de um passado longínquo e que, depois de terem acolhido em suas dependências um número infindável de pessoas que a morte levou por anos a fio, ali estavam perfeitos e  firmes e continuariam a estar a espera de outras pessoas para os admirar como eu os estava admirando. naquele momento, pois continham em si a eternidade..)


                                          BRUGES -  Foto: world-travel-photos.com

Na verdade, quando se chega a Bruges  experimenta-se logo  uma sensação de que se chegou a uma cidade que não está no nosso tempo e que, portanto, voltamos no tempo, que fomos para a época medieval, seja pela  harmonização dos prédios em silêncio, fechados,  seja pelas charretes cruzando as estreitas ruas, seja pelo sentido de eternidade que parece envolver cada janela, cada porta,cada telhado da cidade..
Almoçamos e jantamos pelas imediações, tanto no almoço como no jantar uma comida típica. Uma delas teve um molho especial à base de cerveja. Existem muitos pratos com cerveja, pois a Bélgica é conhecida pela centenas de cervejarias que possui, e Bruges também tem sua cerveja, a Brugse Zot, fabricada pela De Halve Maan desde 1546.





Atualmente, o artesanato de renda domina o comércio, em toalhas, colchas, enfeites, golas de roupa, arranjos de mesa,  uma variedade enorme e  uma confecção fina, leve e elegante
Encontram-se pelas ruas mulheres rendeiras, uma tradição artesanal que vem de geração em geração desde a Idade Média. Elas passam o dia tecendo seus trabalhos de um modo  primitivo e não falam com os turistas, pois não podem tirar os olhos  dos fios de que se utilizam para compor sua peça. Na maioria são idosas e se vestem de preto. Não consegui comprar nada com elas  pois não paravam de trabalhar com aqueles fios.

                                          BRUGES  -  Foto: cadernosdeviagem.blogspot.com

A Grande Place é imponente - a Grote Markt – é  a mais famosa praça da cidade, ostentando construções medievais em excelente conservação em seus quatro lados. O turista se sente rodeado arquitetonicamente por uma profusão de cores e estilos, parecendo um mundo de sonhos que se alonga aos seus olhos, lembrando pinturas antigas, homogêneas e significativas. Na praça  encontra-se a Tour des Halles ou Beffroi, uma torre gigantesca que simboliza, segundo os manuais de turismo, o desejo de liberdade dos habitantes da Idade Média, datando do século XIII. Após subir seus 366 degraus, o turista contemplará, numa imensa vista panorâmica, toda a cidade de Bruges  em seus mínimos detalhes até os confins. Além da altura  ainda há um carrilhão com quarenta e sete sinos.




                           Pieter de Coninck e Jan Breydel,  Foto: waatp.nl


Na praça encontram-se duas estátuas de bronze em honra a Pieter de Coninck e Jan Breydel,  dois heróis populares da batalha dos “Eperons d’Or”.  A seguir, avistam-se o Palais Provincial com sua fachada em pedra branca e o prédio de la Poste. Ao norte da praça, em frente ao Beffroi, ficam, harmoniosamente dispostas,  uma série de construções pequenas com suas fachadas típicas e seus terraços impregnados de sol.  Muitas dessas casas trazem seus nomes nas fachadas. É um conjunto belíssimo e representativo, em muitas fotografias, da praça. Fazem ponto no local  as charmosas charretes para os passeios pelas ruelas da cidade. Saindo da Grande Place para chegar à Praça Burg, que é também reveladora da cidade, basta percorrer a rua Breydelstraat, que separa as duas praças.


                                         BRUGES  -   Foto:cidademedieval.blogspot.com


A Praça Burg era originariamente o centro de Bruges, onde havia uma fortaleza do Conde  Baudoin I e a igreja de  St. Donatien, que desapareceu.Enquanto na Grande Place é o  comércio que predomina, a Praça Burg é o centro administrativo da cidade.   O que chama a atenção pela sua imponência é o prédio da Prefeitura (Hôtel de Ville), um dos prédios mais antigos da Bélgica, com suas pinturas murais que focalizam em imagem os grandes momentos históricos de Bruges. O prédio da prefeitura é, realmente,  um dos pontos imperdíveis do local. Construído entre 1376 e 1420 em estilo gótico, é o prédio mais antigo da cidade com valiosos tesouros históricos. Um de seus aposentos mais famosos é a capela Heilige-Bloedbasiliek.  Há uma cripta de St. Basile acima da capela  do Saint- Sang (Basílica do Sangue Sagrado), igreja famosa por conter uma "cápsula" com gotas coaguladas, supostamente do sangue de Cristo.
Do lado esquerdo da Prefeitura descobre-se o antigo Greffe Civil, um imóvel representativo da renascença flamenga,  exibindo na fachada a data de 1537


                                         Bruges        - Foto: viagenslacoste.blogspot.com


Brugge, por ser  rodeada de canais é conhecida como  a Veneza do Norte. Resolvemos dar um passeio de barco, que é um  dos programas mais apreciados pelos visitantes. Começando nosso passeio pela “Blinde Ezelstraat”,  um antigo albergue,  penetramos nos  famosos canais que cruzam a cidade.  Como Veneza tem ruas aquáticas que são percorridas por barcos  turísticos. Nessa travessia admiramos as pontes, uma vista sobre o Beffroi, orgulho  flamengo, uma “Maison Espagnole”  com dizeres na fachada, homenageando  um poeta flamengo, uma outra vista sobre a igreja Notre-Dame e a pequena ponte de Boniface de 1910,  um busto de Juan Vives, humanista espanhol que viveu em Bruges de  1517 a 1540, um  palácio dos Senhores de Gruuthuse (que se enriqueceram com a venda de uma mistura de espécies para dar gosto à cerveja), o hospital Saint-Jean, a “ Walstraat” com suas rendeiras, um belo bebedouro para os cavalos que são usados nas ruelas da cidade,    uma casa com janelas venezianas em cristal,  o arvoredo das margens do canal, enquanto nossos olhos devoravam  as construções históricas que apareciam no trajeto, tendo ainda a visão do Museu  Groeningue, onde se encontram quadros célebres como “La madonne et  la  chanoine Joris Van der Paele”. A seguir  a ponte do Beguinage por onde se entra no interior do conjunto arquitetônico, com numerosos cisnes nadando  nas águas tranquilas do lago.( Uma lenda sobre os cisnes diz que eles protegem a cidade contra as catástrofes, que teriam sido trazidos a Bruges para vingar a morte de Pieter Lanckhals – long cou --).  Surge a ponte do Lago do Amor com uma fantástica visão da cidade.     Observei que nesse canal – Minnewater --  muitas pessoas atiravam moedas às águas. Uma supertição ? Não, diversos casais assim procediam porque a lenda diz que o canal dá  sorte aos namorados. Em agradecimento  atiram moedinhas em suas águas. Assim terminou o passeio de barco.
                                             BRUGES    Foto:  dicasdeferias.com


Conhecemos o “Beguinage”, quarteirão de casas formando um núcleo  habitacional  que é um conjunto arquitetural flamengo composto de casas, de igrejas, com espaços verdes organizados de acordo com uma concepção espacial de origem urbana ou rural e construídos em estilos específicos para a região cultural. São um testemunho excepcional da tradição das “béguines” que se desenvolveu na idade Média no norte-oeste da Europa . Imediatamente  nos veio à mente a lembrança das “béguines”,  mulheres que ali viveram no passado,  abnegadas  que consagraram suas vidas  a Deus sem se retirar do mundo.


                                          BRUGES - AS RENDEIRAS BÉGUINES



Por volta de  1225, um grupo de jovens sem recursos forma uma associação piedosa de “béguines”.para atender às suas necessidades espirituais  e materiais.  As “ béguines” usavam  “béguins” , uma espécie de coifa( chapéu), cobrindo toda a cabeça. Instalam-se perto de um curso d’água, num local isolado “La Vigne”, no exterior da cidade e ganham sua vida  como  tecelãs. Na  ocasião, a condessa de Flandre,  Marguerite de  Constantinople, passa a protegê-las em 1245, obtendo do bispo de Tournai,  a autorização para que o local em que viviam se transformasse numa paróquia independente. Sua autonomia  é amparada por um privilégio do rei Felipe, o Belo, que  manteve o Béguinage sob sua tutela direta e em 1275 o Béguinage é englobado nos limites da cidade. 








Quando se faz uma viagem desse porte é importante que se consiga ver e compreender os aspectos mais significativos da cidade, objeto da observação,  para fornecer ao nosso espírito, à nossa mente o alimento cultural  de que necessitam para sua satisfação pessoal. Ver é muito importante e saber ver é mais importante ainda, pois não se prende somente ao que os olhos captam, mas sim a tudo o que vem de dentro da gente, uma verdadeira erupção de sensação, emoção e sensibilidade diante do que é revelado pelo olhar. Posso, então, dizer que Bruges  participou dessa visualização consciente e emocional, pois saímos realizados com o que vimos.


                                          BRUGES - Lago do Amor   Foto: minube.com.br


                                            VÍDEO    BRUGES









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