quinta-feira, 31 de maio de 2012

VIAGEM À EUROPA - 1998 -HOLANDA A PARIS


VIAGEM À EUROPA  -  23.5.1998  a  25. 5.1998  - ALPES 12ª. Parte
( Elsa Caravana Guelman e Izidoro Soler Guelman; Leila de Fátima Caravana Ávila  e Ary Lima Filho)

                                          LILLE  -   Grande Place  -  lillemetropole.fr                               

23. 5.98: Saída da HOLANDA. 
Passando, na volta, pelo norte da FRANÇA, resolvemos conhecer Lille. Andamos pela cidade, após deixar o carro num estacionamento central. Fomos até a Grande Place, onde existiam vários eventos musicais e jogos. Era um ambiente jovem e turístico. Almoçamos e seguimos viagem.
Lille é considerada como  uma das cidades mais procuradas para o turismo no Norte da França. Conta com vários monumentos:
A  Porta de Paris: construída em homenagem ao rei  Luis XIV
 Monumentos aos combatentes das duas guerras
Gare Lille-Flandres:
Citadelle:
Parque Jean Lebas:
Beffroi: relógio semelhante ao Big Bem de Londres..
Palácio das Belas Artes (palais des beaux arts): Museu

Pelas estradas da Normandia, pesadas construções de pedra  apareciam nas curvas, de repente, como castelos medievais. Nessa caminhada, passamos por ambientes austeros, tranquilos e bonitos, como os da orla marítima em DIEPPE. Paramos em Honfleur. Bem que imaginamos pernoitar ali. Os hotéis, era fim de semana, estavam igualmente lotados. Foi uma pena. Contornamos a pé o centro minúsculo da cidade, uma visão ligeira da praia.
Quando chegamos a Caen, arrondissement do departamento de Calvados, na G.Normandie Cotentin, já era noite. Foi uma dificuldade para arranjar hotel. Por indicação de um hotel, lotado, fomos em busca de um outro, bem distante do centro da cidade, na estrada, hotel Ibis. Esse local se chamava Falaise. Não tinha o que se ver na noite escura, em plena estrada. O jeito foi dormir logo.
Falaise, arrondissement do departamento de Calvados (55) pertence a Grande Normandie Cotentin. No hotel havia prospectos com referências a pontos turísticos que, infelizmente, não tivemos como conhecer: Château du 18 siècle em um grande parque e a Eglise de la Trinité.

                                                 Hotel IBIS - FALAISE (Calvados) -ibishotel.com


24,5,98:Saída de FALAISE


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Uma verdadeira surpresa: já que, do cálculo da viagem, sobrara um dia, pois devolveríamos o carro somente no dia 25, optou-se por uma visita ao MONT ST. MICHEL, arrondissement de Avranches, do Departamento de Manche (50 ), da G. Normandie Cotentin. Ele fica na divisa com a G. Bretagne, no norte da França.
Quando chegamos ao Mont Saint-Michel, e  isso deve ocorrer com todas as pessoas, fomos tomados de surpresa e deslumbramento diante da imponência que se avistava ao longe.
( Recordei-me logo  de  “Le Horla”, de Maupassant. O personagem contava sua visita ao Mont St. Michel. Ele descrevia a visão de quem chegava perto do fim do dia. Avistava a cidade sobre uma colina, rodeada por uma imensa baia que se estendia, a perder de vista, sob um sol de ouro que desaparecia aos poucos no horizonte ainda “ flamboyant”, mas ainda iluminava o fantástico rochedo que exibia em seu cume um monumento. As águas haviam engolido a areia, que, no dia seguinte, quando a maré baixasse, voltaria para dar passagem ao monte. No dia seguinte ele penetrou na mais bela construção gótica sobre a terra (“vaste comme une ville, pleine de salles basses écrasées sous des vôutes et de hautes galeries que soutiennent de frêles colonnes”). Descreve sua entrada nesta gigantesca joia de granito, também leve como uma renda, coberta de torres, que lançam, no céu azul do dia ou no céu negro da noite, cabeças bizarras de quimeras, de diabos, de animais fantásticos,etc. Ele fala de um monge que ficava do alto do penhasco, com ele, ao sabor do vento, vendo a subida do mar correndo sobre a areia e cobrindo-a de uma couraça de aço .Ninguém melhor do que Maupassant descreveu o enorme bloco de pedra que sustinha a cidadela dominada pela grande abadia)

  
                                                 Mont Saint-Michel      landofblogging.wordpress.com

Victor Hugo comparou a velocidade vertiginosa da maré a um cavalo galopando como se empurrado pelo vento, talvez  por causa dos inúmeros acidentes ocorridos  com pescadores e  visitantes,  tomados de surpresa pela armadilha do fenômeno das marés, que, encontrando um mar inteiramente submisso, em poucos minutos, num transbordamento gigantesco, cobrem a terra de água,  num  espetáculo  semelhante  a  um verdadeiro bailado  marítimo,   ao separar o monte do continente. Uma beleza inesgotável  para os que permanecem no monte e, também, para os que, de longe, no continente , avistam o monte.

                                           Mont Saint-Michel            walldesk.net

Para o visitante, que está em terra firme, a visão da noite deve ser deslumbrante. A luminosidade dos projetores sobre a fachada revelam detalhes que o dia não permite distinguir. Nas imediações do monte, o visitante descobre um imenso panorama de construção medieval, percorrendo uma infinidade de  edificações desde a ponte ao cume do rochedo. 
O Monte St. Michel, consagrado a St. Michel em 708, foi confiado aos monges beneditinos em 966. A abadia foi transformada em prisão com a revolução até 1863 .
Fizemos um passeio completo pela abadia e cercanias. A visita se deu em três níveis: superior ( abadia); intermediário ( criptas, salas dos hóspedes e sala dos cavaleiros) e inferior ( Aquilon, Ceellier, Aumônerie). O Monte congrega os seguintes estilos: romano e pré-romano, gótico e flamboyant. O folheto distribuído na portaria, para orientar a visita, esclarece que os três níveis do monastério refletem, de alto a baixo, a organização da sociedade medieval - clero, nobreza e terceiro estado - e a hierarquia do alimento espiritual, intelectual e material. Existem eventos e espetáculos  noturnos pelo interior da abadia ao som de musica, no silêncio, na sombra e na claridade, procurando reviver a dimensão histórica, simbólica e espiritual da abadia.  
Há muitos passeios pelos arredores do monte, e, um deles, as Falaises de Champeaux ,são consideradas de alto valor paisagístico por sua área florida em ambiente panorâmico, descortinando a imensidão da baía de Saint-Michel.
                                                Mont Saint-Michel   -  tripideas.co.uk
                                  
Na entrada,  são encontrados os restaurantes, cafés e lojas diversas.É a parte mais animada do local com  os turistas e visitantes concentrados no decorrer do dia. Compramos algumas lembranças numa pequena loja e visitamos uma outra de objetos de arte local.
Dizem que o Mont Saint-Michel, a maravilha do Ocidente, continua, apesar do afluxo  turístico,  que recebe, noite e dia, a destinação ideal para acolher o peregrino nostálgico, com o charme medieval  de sua abadia beneditina. É de se estranhar que o local ainda não tenha um provérbio forte, como Roma ( todos os caminhos levam a Roma) e Veneza (ver Veneza e morrer), pois além de ser um passeio inesquecível, ele congrega, em sua arquitetura preservada, a história de uma época.
Quando deixamos a área do monte ficou ainda uma multidão de carros. Não estávamos, de modo algum, fugindo das marés, mas sim para continuar nosso percurso em direção a Paris.






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Pernoite em DREUX. Hotel Campanille, onde jantamos muito bem. A rede hoteleira Campanille é muito conceituada na Europa.
Dreux , arrondissement do departamento de E. et L. (60), pertence à Região G. Normandie Vallée de la Seine. O hotel ficava na estrada, foi só para jantar e dormir. 
Dreux  conta com a natureza e a tranquilidade que se unem para propiciar a visão de belas paisagens dos vales l’Eure, de la Blaise et de l’Avre em diversos passeios.É, também, um rico patrimônio  constante da  Chapelle Royale, l’église Saint-Pierre ,o cemitério merovíngeo de Saulnières, o castelo de Boullay-Thierry ou os antigos moinhos   de Villemeux-sur-Eure.



25.5.98: Saída de DREUX. 

                                          DREUX  -  blog.travelpod.com







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Chegada a PARIS. Hotel Excelsior. 9 noites: De 25.05.98
a 03.06.98
26.5.98: Visita ao Pantheon.

                                                PANTHEON -   norstad.org
          


( Aqui fica mais uma confissão que não posso deixar de fazer.  A minha emoção comanda. Na viagem vi muita cidade bonita e até deslumbrante como Nice, Cannes, Annecy, Brugges, Strasbourg, Amsterdam, etc. Porém, hoje,em Paris, do alto do Pantheon, com vista total da rua Soufflot, adornada pelos prédios de ambos os lados, pelas soberbas construções da Faculdade de Direito e da Prefeitura do 5eme. arrondissement, senti-me enebriada . A rua é , ao mesmo tempo, acalorada pelos toldos vermelhos dos bistrôs e acalmada pelo verde gritante do Jardim de Luxembourg, tendo, bem ao fundo, a torre Eiffel. Senti uma espécie de rajada não só de brilho mas ainda carregada de imponência pelo conteúdo histórico que a visita revelou, tanto na crypta, de Voltaire a Malraux, como na observação “in loco” do Pêndulo de Foucault).
                                          Jardins du Luxembourg    tripwow.tripadvisor.com

Em Paris ficamos no hotel Excelsior, na rue de Cujas, no 5eme. arrondissement, nas imediações da Sorbonne.  A convite nosso, almoçamos todos no restaurante Salambô, especializado em comida marroquina e tunisiana. Por convite de Leila e Ari almoçamos num restaurante chinês-judaico nas imediações do hotel Campanille, na Republique.
Na rua de Cujas e ao lado do hotel estava instalado um cinema. Um cinema especial onde só passavam filmes especiais. Travei conhecimento com a bilheteira e ela me forrneceu xerox do filme a que assisti.

( Era uma tarde chuvosa. Chovia forte, não dava para sair em passeio. Ninguém me acompanhou, apesar dos convites, ao cinema na rua de Cujas, junto ao hotel. Assisti ao filme “Passage”, do diretor tcheco Juraj Herz. A temática lembrou-me Kafka e seu “Castelo”. Um filme metafórico. A crítica francesa o considerou marcado pela “nouvelle vague”. Há uma mistura de realidade e fantasia numa ambiência onírica em meio a um jogo de espelhos, que são ressaltados por um colorido agressivo de cores quentes e significativo pela posição que ocupa nos corredores da galeria. O filme retrata a vida de um homem normal, vivendo o seu cotidiano, que se abriga numa passagem para fugir de uma forte tempestade. O personagem é imediatamente arrastado para dentro da galeria, para um labirinto e projetado numa verdadeira espiral de acontecimentos imprevisíveis, bizarros e insólitos.   O filme é uma porta fechada (huis clos).  Como encontrar a saída ? Acudiu-me um filme famoso, o “Anjo Exterminador”, de Bunnuel, também metafórico e onírico, onde era quase impossivel encontrar a saída. O cinema de arte não é apenas diversão, pois ele obriga o expectador a meditar sobre a vida em busca de uma solução para os “porquês” insondáveis da existência humana. Ah! como gostaria de rever este filme!)

                                            Filme PASSAGE  - nova-cinema.org


"Coincé dans un embouteillage monstre , Michal Forman est contraint de sortir de sa voiture, sous une pluie diluvienne, et de se réfugier sous un porche. C’est alors qu’un homme surgit devant luiŠ Adaptée du roman de Karel Pecka, auteur de pamphlets contre le régime tchèque, l’intrigue déroule l’errance d’un homme ordinaire dans les galeries d’un passage commerçant. Une pulpeuse vendeuse de fleurs en une mante religieuse, un ventripotent chef-coq servant dans un sauna, un gardien de nuit, une fillette, un comique ivrogne et des hauts responsables moribonds, tous agissent sur Forman comme sur un aimant. C’est à cet anti-héros et aux spectateurs de dénouer les fils de ce film surréaliste. Comme dans un tour de presdigitation où la formule abracadabrante serait celle du cinéma, "Pasaj" est aussi un film dans le film, puisque les dispositifs cinématographiques s’enchâssent dans le scénario lui-même pour décliner en trois versions distinctes la chute du film."


                                                  SORBONNE  -  hoteisparistrianon.com

Conheci, por sinal, uma Passage parisiense, também importante, pois foi tema de um romance, “Morte a Crédito”, de Louis-Ferdinand CÉLINE: a Passagem Choiseul. Muito longe do que foi retratada no romance, ela, contudo, deixava entrever, pelas construções antigas, a importância que tivera no passado, quando as Passagens desempenharam, elegantemente, o papel que coube, no futuro, aos grandes magasins dos boulevards haussmannianos. 
No Parque Monceau, bucólico e acolhedor parque da burguesia francesa, notamos e assinalamos a casa n. 5, da rua Van Dick, que pertenceu a um comerciante de chocolates. Depois de admirá-la, em poucos minutos, pela rua Hoche, chegamos aos Champs Elysées. Do silêncio bucólico do Parque atingimos à multidão, que se estendia por todo o percurso da elegante avenida até a praça da Concórdia, numa mesclagem de roupas coloridas e esfuziantes.E era uma multidão, gente de todo lado. (A multidão lembrava  Walter Benjamin e suas "Passagens", Charles Baudelaire e "As Multidões" e Edgard Alan Poe e "O homem das multidões").
Foi, numa banca de jornal, que lemos a notícia da greve da Air France.
A greve da Air-France nos permitiu permanecer mais um dia em Paris. 

                                          Vista do SENA              hotelpulitzer.com   

3.6.98: Embarque em Paris, via AIR-FRANCE, para o Rio de Janeiro
4.6.98: Chegada ao Rio. Fim.

( A viagem teminaria assim, como tantas outras viagens que são feitas no decorrer da vida. Em pouco tempo, os detalhes seriam perdidos, as novidades seriam esquecidas, deixando, apenas, uma leve lembrança, um pequeno resíduo que, contudo, não resistiria ao tempo. Foi, então, temendo isso que resolvi documentar os detalhes mais subjetivos e significativos, aqueles que, por não fazerem parte do dia a dia de cada um, causaram boa impressão na viagem. Se fosse fazer um balanço da viagem, eu diria que ela foi ótima, embora tenha fugido do roteiro original, pois se eu perdi, por culpa da neve, muitas cidades envolventes, ainda,  por culpa da neve, ganhei a visão de locais não previstos e que jamais teria oportunidade de ver e conhecer, apesar da pressa com que foram visitados. Foi a  nossa primeira viagem de carro na Europa.  Finalmente, um agradecimento a Leila e ao  Ary  por nos ter acompanhado nesta viagem  tão  especial, plena de surpresas, que possibilitou inusitadas aventuras, em terras longínquas.. Será que um dia a repetiremos?)

                                          Paris - Cidde luz




terça-feira, 29 de maio de 2012

VIAGEM À EUROPA - 1998 - HOLANDA



VIAGEM À EUROPA  -  20.5.1998  a  22 .5.1998  - ALPES 11ª. Parte
( Elsa Caravana Guelman e Izidoro Soler Guelman; Leila de Fátima Caravana Ávila  e Ary Lima Filho)

                                               Holanda      -    lucyinthesky.com.br

Em 20.5.98 saímos de  Bruges com pesar por deixar uma cidade tão encantadora que preencheu todas as nossas expectativas. Quando se chega   há sempre  surpresa e quando se vai embora surge o pesar.  Nosso destino agora seria a HOLANDA e um novo mundo se abriria aos nossos olhos.
A vegetação e a paisagem holandesas diferiam totalmente da vegetação dos alpes e prèalpes. Tudo a nossa frente era plano, imensamente plano e verde, sem mudanças bruscas, onde as vacas, as famosas vacas holandesas, pastavam. A mudança da paisagem se deu sem que a gente percebesse, de repente, envolvidos em uma conversa ou na busca de um roteiro turístico
Almoçamos em Delft, uma cidade cortada por canais,  num restaurante  perto de um canal. O ar estava ameno e convidativo.


                                                         Delft     --      entretulipas.com

Delft é um dos centros mais antigos do país, já sendo mencionado em 1062. Ali nasceu um grande jurista de nome Hugo Grotius. É igualmente pátria do pintor Jan Vermeer, um verdadeiro gênio da pintura universal. Tornou-se famosa por suas fábricas de faiança, que datam de meados do século XVII. Essa indústria se inspirou, inicialmente, em modelos chineses, teve seu apogeu entre 1680 e 1740.  Sua Porcelana típica azul, conhecida como Delft Blue, havendo, contudo, outras cores de inspirações italianas e orientais.Existe uma  porcelana 100% pintada à mão,  que é acompanhada de um certificado com o número da peça, visando a atrair o turista exigente e o colecionador de peças raras.


                                                 DELFT   -  viajesaholanda.com


Tipicamente holandesa, Delft não apresenta  o cosmopolitismo de Amsterdam, e mantém uma identidade própria. O centro é formado por dois canais originais, que chegam à praça chamada Markt
O antigo convento mantém atualmente o Stedelijk Museum Het Prinsenhof com uma rara coleção de louças antigas, tapeçaria, prataria e retratos da família real holandesa. Outro museu da cidade é o Volkenkun-dig Museum Nusantara, com peças que foram trazidas da Indonésia por mercadores da Companhia Holandesa das Índias.
Não se pode deixar de fazer referência ao pintor holandês Johannes Vermeer (Delft, 31 de Outubro de 1632 - Delft, 15 de Dezembro de 1675), que também é conhecido como Vermeer de Delft ou Johannes van der Meer, considerado  pela crítica mundial como um dos maiores pintores de todos os tempos.
Vermeer viveu toda a sua vida na sua terra natal, onde está sepultado na Igreja Velha (Oude Kerk) de Delft.
É sabido que Vermeer trabalhava lentamente e que era muito meticuloso. Suas obras se distinguem por uma combinação de cores inimitáveis – cores claras e pigmentos algumas vezes dispendiosos  com uma predileção para o ultramar natural e amarelo --  o domínio no tratamento e no emprego da claridade, e  um arranjo ideal, criando uma ilusão de espaço particular, procurando criar um mundo mais perfeito para expressar suas ideias artísticas.
Além da lentidão e da meticulosidade, Vermeer era também cuidadoso com suas  pinturas, pondo-as para secar  de tempos em tempos. Como, no local,  o relógio vazio indicava o ano de 1660, ficou acertado que o quadro VUE de DELFT teria sido acabado entre 1661 e 1663


                                          Quadro: Moça com brinco de pérola -- viajesaholanda.com
                                           Filme: modelo Scarlett Johansson.


Depois de haver sido praticamente esquecido por mais de um século, o pintor foi redescoberto em 1866 pelo crítico de arte Théophile Thoré-Burger que lhe consagrou uma série de  artigos. Desde essa descoberta, a reputação artística de Vermeer se ampliou e passou a ser reconhecido até o presente, com   Rembrant e Frans Hals, como pintores do século de ouro néerlandais.
Numa série de três artigos publicados em 1866 na Gazette des Beaux-Arts, em Paris, o crítico  fez o relato de sua descoberta de Vermeer. Quando visitou o museu de La Haye em 1842 descobriu o quadro VUE DE DELFT com o nome de Vermeer figurando no catálogo,  nome esse que lhe era desconhecido. Há duas versões para o episódio, na primeira ele é tomado de violenta emoção diante da beleza do quadro descoberto e, na  segunda,  ele simplesmente se encantou com o quadro e tentou imediatamente conhecer todos os pormenores com referência à pintura e ao pintor.  Nos anos seguintes, descobre, numa coleção particular, dois outros quadros assinados pelo pintor ( La Laitière e Façade d’une maison hollandaise). Movido pela admiração e pelo entusiasmo ele reconhece 70 quadros dispersos e atribuídos a outros pintores, que, passados por análises modernas, pelo menos, 40 deles foram autenticados como de Vermeer


                                                  Detalhe Vue de Delft -  art-deco.france.pagesperso-orange.fr


Analisando a Vue de Delft com a devida atenção, percebe-se no primeiro plano do quadro  o canal Schie, emoldurado pelas portas de Schiedam (à esquerda) e de Rotterdam (à direita), assim como a Nova Igreja (Nieuwe Kerk) protestante, iluminada no fundo pelos raios do sol..
O arranjo de casas que Vermeer pintou à esquerda existe ainda
Quando se chega a Delft, a torre da velha igreja aparece também massiça e imponente  como a da nova igreja. No quadro, é diferente,  a torre da velha igreja é pouco visível, enquanto que a nova é saliente e duas vezes mais larga.

                                                   Vue de Delft   -   grandspeintres.com

Não resta, atualmente, nada, nem sequer  uma pedra para recordar as duas antigas portas, desde a demolição da porta de Schiedam em 1834 e da porta de Rotterdam em 1836. Em seu lugar, um intenso tráfico de automóveis passa rapidamente por entre os fantasmas das duas portas que identificavam a cidade no canal Schie. Somente o Armentarium,  as construções ao longo dos canais e duas fachadas ao longo da rua  Kethel recordam o que era Delft nos tempos de Vermeer.
A viagem, a seguir, mostrou alguns moinhos , as  vacas malhadas nos campos verdes  e muitas plantações de  tulipas




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                                          HAIA  _   fernandolemos2.blogspot.com


Nossa visita a HAIA foi, como tantas outras, rápida. Mas, mesmo assim, tiramos muitas fotos e filmamos, principalmente a área litorânea. Ë uma cidade famosa no cenário histórico. Suas conferências projetaram-na nos anais e nos interesses jurídicos. Estivemos num balneário com cafés e restaurantes ao ar livre.
Havia muita expectativa de nossa parte no tocante à Haia. Sabíamos que era uma cidade muito importante no cenário jurídico,  com forte tradição diplomática e por ser, fundamentalmente,  a sede de quatro tribunais internacionais, em que se destacam O Tribunal Internacional de Justiça  e a Corte Penal Internacional, sem falar nas conferências de alta importância que ali se realizaram. Estávamos, pois, no centro jurídico do mundo. 
Haia é a sede do governo, mas, oficialmente, a capital que  é Amsterdã. Haia mantém a Eerste Kamer (primeira câmara) e a Tweede Kamer (segunda câmara), que são câmaras alta e baixa formando o "Staten Generaal" ("Estados Gerais").  Sabe-se que a  Rainha Beatriz  vive e trabalha em Haia com as. embaixadas e ministérios bem como a Hoge Raad der Nederlanden (A Suprema Corte), oRaad van State (Conselho do Estado) e muitas  organizações de importância.


                                          BINNENHOF (Parlamento) - noticiasdoplaneta.blogspot.com


No centro histórico encontra-se o impressionante complexo de construções de Binnenhof, que é o local de funcionamento do parlamento holandês desde o século 15. Junto ao complexo existe um lago e a casa onde viveu Maurício de Nassau, hoje museu,
Dos muitos prédios históricos interessantes em Haia, nenhum é tão impressionante como “Het Binnenhof”, o Parlamento Holandês. No pátio interno, fica o “Ridderzaal”, o salão dos cavaleiros. O  prédio com arcadas, torres e um fosso com chafarizes e cisnes parece um castelo saído de um conto de fadas.
Ao longo dos séculos, o “Binnenhof” vem ocupando o centro da vida política na Holanda como sede do Parlamento .. O salão dos cavalheiros, o “Ridderzaal”, além de ser a construção mais importante, construída no século XIII, é o local onde, em seu trono, a rainha faz o discurso de abertura anual do parlamento, na terceira terça feira do mês de setembro. Para cumprir esse ritual, a família real chega ao “Binnenhof “ numa  carruagem dourada
Vale a pena observar a disposição dos prédios do governo situados no centro da cidade em torno de um pátio interno, o Binnenhof com uma fonte,  ao longo do belíssimo lago Hof (Hofvijver). É um complexo sóbrio, elegante e , ao mesmo tempo, suntuoso
.A cidade surgiu por volta de 1230, quando Floris IV construiu sua residência de caça ao lado da lagoa conhecida como Hofvijver. A seguir um amigo do conde edificou um palácio em 1256, o Ridderzaal. O Duque de Borgonha passou a controlar as províncias de Noord Holland, Zuid Holland e Zeeland, deixando um substituto para governar em seu lugar em De Haag’. Vieram as  guerras Napoleônicas, o Reino Unido dos Países Baixos (com parte da Bélgica) se uniram contra a França, Bruxellas e Den Haag, que se alternava a cada dois anos como sede do governo. Após a separação da Holanda e da Bélgica, Amsterdam permaneceu como capital dos Países Baixos e o governo permaneceu em Den Haag.


                                               RIDDERZAAL  - panoramio.com







Por volta dos anos de 1230 e 1280, os Condes da Holanda construíram um castelo no mesmo local onde hoje está o atual "Binnenhof". No início era uma pequena hospedaria de caça, modificada na gestão do Conde Floris V, com a construção do  Ridderzaal. No século XIV, surgiu um pequeno  assentamento ao redor do castelo, que cresceu rapidamente em razão da chegada da corte, tornando-se um  povoado com  industrias texteis e algumas cervejarias,  denominado Haia dos Condes, que atualmente é conhecido como Den Haag ou Haia
Conhecemos Madurodam, a Holanda em miniatura. Era um espaço grande que focalizava aspectos culturais e arquitetônicos do país. São castelos e construções menores, de épocas diferentes,  refletindo fatos históricos. Surgem  encenações de batalhas e paradas militares. Também há embarcações representando o apogeu das conquistas  marítimas no passado.
Madurodam é localizada em Scheveningen. É um modelo de uma cidade neerlandesa numa escala uniforme de 1:25, uma representação da arquitetura neerlandesa.  Madurodam foi construída em 1952 com dinheiro doado pela família Maduro em homenagem ao filho,George Maduro, que faleceu na luta contra a ocupação nazista dos Países Baixos. Uma homenagem a quem lutou pela liberdade contra a opressão e a tirania.
A cidade miniatura Madurodam é  famosa no mundo inteiro, um lugar ideal para conhecer todos os aspectos arquitetônicos da Holanda. As casas típicas ao longo dos canais em Amsterdã, o atuante  mercado dos queijos em Alkmaar, suntuosidade do  Palácio Real, o Rijksmuseum, a torre da catedral  de Delft, tudo muito bem organizado e  representado nos seus ínfimos detalhes em belíssimos jardins.


                                          Madurodam  Binnenhof en Ridderzaal - free-photos.biz


Madurodam está em constante  movimento.É um mundo em miniatura.  Há moinhos de vento girando, lanchas  em  passeios pelos canais, um incêndio sendo apagado no porto, enquanto  os tréns modernos percorrem a cidade por uma estrada de ferro em  miniatura..
Uma visita à praia vizinha e ao bulevar de Scheveningen, um bairro de Haia,   completou a visita a  Madurodam. A praia, que é  longa,   com uma esplanada  e inúmeras cabines de banhos, movimentadíssima, funciona como um verdadeiro convite  para os prazeres do mar..

                                                 Museu Mauritshuis -    flickr.com

O museu Mauritshuis , Casa de Maurício,  é um importante prédio histórico de Haia, um dos mais importantes da Holanda. Foi construído por Maurício de Nassau , governador do Brasil holandês no século XVII. Hoje se chama Real Galeria de Pinturas de Mauritshuis, com um importante acervo de arte, tendo  sua construção, como modelo e fonte de inspiração,  edifícios italianos, célebres na época.
Encontra-se o museu num  dos bairros mais elegantes de Haia, sobre o Hofvijver, perto do Binnenhof,  com uma grande extensão de jardins.
O museu é composto de pequenas salas intimistas  com pinturas de Johannes Vermeer e Rembrant, entre outros. O quadro Vue de Delft de  Vermeer é responsável pela grande notoriedade do museu, atualmente, recebendo inúmeras visitas de artistas e interessados em artes para ver no local o que foi descrito na obra magistral de Marcel Proust, À La Recherche du Temps Perdu. Todos querem ver, examinar, analisar a « pintura mais bonita do mundo », como foi classificada por Proust em uma carta a uma amiga, em 1907.
Os historiadores de arte admitem que o quadro de Vermeer, la VUE de DELFT, foi comprado pelo rei Guillaume 1er.(1815-1840). No século XX a pintura foi exposta na National Gallery of Art de Washington, depois passou a pertencer ao museu Mauritshuis de Haia.


                                         Vue de Delft - detalhe   -  essentialvermeer.com


Esta Vue de Delft representa uma parte da cidade natal de Vermeer sob a forma de uma veduta, uma pintura muito detalhada de uma paisagenm urbana, constituindo com La Ruelle,  as únicas paisagens da obra do pintor. Sobre Veduta, para melhor esclarecer o quadro, encontramos («Nas artes plásticas se chama veduta  -"vista"-  a gravura, pintura ou desenho RICO EM DETALHES e usualmente em grande escala que apresenta a perspectiva de uma paisagem  urbana ou de outros panoramas). 
De saída, percebe-se no primeiro plano o canal  Schie de Delft,  emoldurado pelas portes de Schiedam (à esquerda) e de Rotterdam (à direita), assim como a  Nova Igreja (Nieuwe Kerk) protestante,  iluminada ao fundo pelos raios do sol


                                                                   encres-vagabondes.com


Marcel Proust fez duas viagens à Holanda, sendo a primeira em outubro de 1898  a Amesterdam e a segunda em outubro de  1902, visitando Bruges, Anvers, Delft e Haia  A primeira viagem foi motivada por  uma grande exposição Rembrant, que fora  presenteada aos franceses por Arsene Alexandre no Figaro de 25.09.1898.  O escritor francês viu a tela do artista holandês, em 1902, no mesmo lugar em que ela pode ser apreciada hoje, no museu Mauritshuis, em Haia. Há relatos de  que Proust teria inclusive desmaiado ao ver a pintura, a belíssima panorâmica. Em 1921,  ele escreve a um crítico de arte, seu amigo,quando descobre que o quadro  Vue de Delft será exposto numa exposição holandesa no Museu Jeu de Paume, em Paris dizendo: “Depuis que j’ai vu ao musée de la Haye la Vue de Delft, j’ai su que j’avais vu le  plus beau tableau du monde” (Desde que eu vi no museu de Haia a Vue de Delft, eu soube que tinha visto o mais belo quadro do mundo.). Ele vai à exposição com o seu amigo, crítico por estar com a saúde muito debilitada, tanto que morreria em 1922. Passa mal, quase  cai, é amparado e volta para casa transtornado. E é fato que, depois da exposição, em sua obra prima,
 "Em Busca do Tempo Perdido", ele descreve  a ida de um romancista, Bergotte,  ao museu  para ver o famoso quadro e, ao vê-lo, de tão maravilhoso que o considera - le petit pan de mur jaune -  morre de êxtase diante da pintura, ao mesmo tempo se lamentando ao descobrir que não poderia escrever tão belamente quanto Vermeer pintava.
A obra de Vermeer, ainda que elogiadíssima pela crítica especializada, era pouco conhecida. Proust a  glorificou em sua Recherche e isso lhe valeu uma consagração mundial, tanto que há excursões visando principalmente uma visita  guiada da Vue de Delft  no museu Mauritshuis com explicações detalhadas dos locais e da técnica da pintura. 
É do mesmo pintor holandês, que viveu só 43 anos, a contar de 1632, outra obra famosa do museu de Haia "Moça com Brinco de Pérolas".


       
                                          Amsterdam - estradatemurgab.blogspot.co

Uma surpresa nos colheu quando chegamos a Amsterdam no cair da tarde. Por causa do jogo final entre Juventus e Real Madrid, não encontramos hotel. Foi uma busca infrutífera pelas ruelas, pelos canais, pelas praças. Todos estavam lotados. Que decepção! A cidade abrigava uma multidão entre torcedores, jovens e turistas. Não saberíamos afirmar como a cidade é normalmente, sem o jogo. Não se tinha como andar nas ruas com tanta gente por todos os lados. A estação ferroviária, de minuto a minuto, lançava pessoas de todos os tipos nas duas ruas principais da cidade. Não se entendia de onde vinha tanta gente. Seriam todas por causa do jogo ? Havia todo tipo de pessoa, se umas eram simples, até simples de mais na indumentária, outras eram sofisticadas e até exageradamente sofisticadas. Uma mistura sui generis .
Rapidamente resolvemos pernoitar numa cidade próxima a Amsterdam.

                                                 HILVERSUM -    mydutchcastle.nl

Em HILVERSUM ,  nosso companheiro  Ary, chegando ao ponto final da ida à Europa,  sentiu-se em casa, ao lado de familiares e amigos da época em que  tivera uma participação profissional ativa   na problemática  das telecomunicações, que era seu trabalho, então.
 Ficamos no Hotel Hilfertson : 3 noites.
 Aproveitamos para descansar um pouco dos efeitos da longa viagem  e conhecer a cidade  que nos recebia pela primeira vez,  com suas praças, seus mercados,  seus restaurantes.
Hilversum é um importante município holandês ,da província da Holanda do Norte, dando nome à maior  cidade da região. Está cercada por inúmeras várzeas, florestas, lagos, vilarejos.. Hilversum faz parte do Randstad, zona metropolitana dos países baixos, que vai de Amesterdam a Roterdam, considerada como  uma das maiores conurbações da Europa.
Hilversum fica a 30 km a sudeste de Amesterdam  .


                                               HILVERSUM - Rádio e Televisão - everytrail.com


A cidade é conhecida como  a cidade da “mídia " por ser  o principal centro de radiofusão dos Países Baixos.. A  Rádio Nederland é  ouvida mundialmente por suas ondas curtas desde  1920 e  está localizada em. Hilversum , que  é a sede de um imenso conjunto de estúdios de som e televisão,  pertencentes à empresa de teledifusão nacional NOB,  ainda estúdios e escritórios das organizações públicas de teledifusão  com  muitas redes de televisão comerciais.
Hilversum também é admirada pela imponente arquitetura do prédio da sua prefeitura (o "Raadhuis”) , contando com vários centros esportivos e comerciais (tais como Hilvertshof, Kerkelanden, Riebeeck-Galerij, Severijn e Chatham).
 O centro da cidade é chamado de het dorp,  que quer dizer, "a vila".
A cidade em 1958  viveu um estrondoso clima de festa ao participar e acolher  o Festival Eurovisão da canção com representantes do mundo inteiro.

 Visita de trem à AMSTERDAM.
Em Amsterdam, ficamos, pela parte da manhã, separados. Leila preferiu conhecer o Museu de Cera e nos, eu e Izidoro, fomos conhecer a Sinagoga Portuguesa, a célebre sinagoga que, um dia, recebeu o filósofo Baruch de Spinosa.
Queríamos conhecer a comida indonésia . Por incrível que pareça não se achou  nenhum restaurante indonésio. Fomos, então, a um restaurante que tinha comida indonésia, após os passeios, na rua Damrak.





( Da janela de um restaurante , saboreando comida indonésia, vi passar uma multidão que vinha da estação de ferro. E, de repente, me dei conta que, diante de mim, estava o mundo. Um mundo girando, doido, , caótico, heterogêneo, de todas as liberdades, como dizem os franceses. Enquanto isso, no interior do restaurante, as pessoas, que ali almoçavam, não se deram conta, sequer, dessa visão mágica que desapareceu quando me levantei para sair do restaurante.)

À tarde fizemos um passeio de barco pelos canais. A embarcação nos conduziu aos principais canais que ligam a cidade. Tivemos, então, a oportunidade de conhecer a estrutura arquitetônica local. As casas, todas iguais, lembraram-nos a cidade em miniatura. A cor escura sobressaia sobre a clara. As construções eram muito estreitas e altas. As mudanças de móveis seriam feitas com guindastes, pela frente. É uma estrutura que já está preparada para  esse tipo de tarefa, sempre pronta a uma possível mudança.
Por curiosidade, contornamos as ruas das prostitutas, onde, numa ambiência peculiar, cada mulher no seu compartimento fechado, oferecia um espetáculo diferente aos visitantes. Havia uma multidão no bairro da Luz Vermelha, muita curiosidade..
                                          Amsterdam- coupsdecoeurpourlemonde.com

22.5.98: Visita a LOENEN, no interior da Holanda, para conhecer um velho moinho e uma ponte levadiça. É uma cidade muito próxima de Hilversum
 Vimos o lago de Loosdrecht com igreja e moinho em Loenen


                                          Loenen    -  nieuwbouw.com




Andamos tranquilamente pelas ruas da cidade e  encontramos uma feira, onde se vendia, em grande parte, material  de couro. Nas  barracas alimentícias, havia  peixes herings para degustação imediata.
Presenciamos  uma ponte levadiça em pleno funcionamento quando dava passagem a barcos grandes. As pessoas aguardam que a ponte se levante até voltar  ao normal para continuar a dar passagem aos pedestres de um lado a outro. Á medida que um barco de certo porte se aproxima, há um sinal programado para a execução dessa tarefa, que, me parece, ocorre o dia todo.
Na planura holandesa, avistava-se ao longe os prados verdes salpicados do gado, uma paisagem que não se modificava, dando ideia de profunda calma, como o se o tempo conseguisse parar um pouco e , assim,  podermos observar longamente o que se descortinava  a nossa frente sem muita pressa.
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Foi um prazer conhecer a Holanda, com  suas cidades muito bem organizadas e convidativas. Estava chegando a hora do retorno, a volta para  Paris,  mas antes, como ficou decidido,  visitaríamos o Monte Saint-Michel, passando primeiro por LIlle.
Dava-se, então, adeus  à Holanda.



segunda-feira, 30 de abril de 2012






VIAGEM À EUROPA  -  18.5.1998 a 20.5.1998  - ALPES 10ª. Parte
( Elsa Caravana Guelman e Izidoro Soler Guelman; Leila de Fátima Rocha Caravana e Ary Lima Filho)




                                         BRUGES   -  Foto:arquitecturamovel.blogspot.com





Depois de uma viagem cheia de surpresas e descobertas, passando por paisagens que diferiam de um lugar para o outro, chegamos a Bruges. Sempre  a mesma luta em tentar conseguir um bom hotel em boa localização para não se perder tempo com distâncias longas. O carro deu muitas voltas pelo centro da cidade e, quando menos se esperava,  apareceu o hotel, simples, aconchegante e numa rua perto da Grande Place de Bruges. Realmente, o Hotel Voermanshuys ficava muito bem situado no coração da cidade velha, rua Oud Burg, onde todos os acontecimentos sociais e culturais acontecem, diariamente, e onde estão localizados os restaurantes mais significativos de Bruges.






Descrever Bruges é revelarr uma cidade harmoniosamente sóbria, encantadora, ativa e que soube guardar sua identidade.  A idade de ouro de Bruges  ocorreu no século XIV, quando se tornou o centro comercial mais importante da Europa, com um nível de vida muito elevado, provocando uma afluência de artistas e estrangeiros.A  ligação com o mar tornou-se sua artéria vital no  desenvolvimento econômico e cultural. No século XIII a industria têxtil se iniciava, e Bruges já era produtora de lã e tinha comércio ativo com a Inglaterra. Essa parceria fez de Bruges, com o passar dos anos, uma cidade  rica e poderosa com  grandes mercadores da cidade. Esse comércio atraiu outras cidades, tornando o porto de Bruges um dos mais movimentados pelos inúmeros navios que  ali passaram a atracar em busca de mercadorias.




.(Bruges é uma típica cidade medieval. Eu ansiava por conhecê-la melhor, Em 1995, quando visitei a Bélgica, ela fez parte do roteiro. Não consegui filmar o passeio de barco, pois a bateria falhou. Agora, então, estava decidida a ver o mais que pudesse, porque era uma oportunidade única. Nem acreditava que, chegaria lá, que o carro andaria pelas ruelas, sem conhecimento do local, dos hotéis até que uma verdadeira joia muito bem foi localizada: um hotel na parte antiga, histórica, da cidade. Fiquei na janela olhando a rua e vendo as casas que mais pareciam de brinquedo, de sonho. Mas não eram de sonho, nem de brinquedo, pois em muitas delas funcionavam os prédios públicos da cidade.Eu me recordo do trajeto que fazíamos do hotel à Grande Place. De ambos os lados da rua,  os prédios, muito bem preservados, alinhados pareciam aguardar a nossa passagem. Era um caminhar solene por entre aquelas construções medievais que tantos segredos guardavam de um passado longínquo e que, depois de terem acolhido em suas dependências um número infindável de pessoas que a morte levou por anos a fio, ali estavam perfeitos e  firmes e continuariam a estar a espera de outras pessoas para os admirar como eu os estava admirando. naquele momento, pois continham em si a eternidade..)


                                          BRUGES -  Foto: world-travel-photos.com

Na verdade, quando se chega a Bruges  experimenta-se logo  uma sensação de que se chegou a uma cidade que não está no nosso tempo e que, portanto, voltamos no tempo, que fomos para a época medieval, seja pela  harmonização dos prédios em silêncio, fechados,  seja pelas charretes cruzando as estreitas ruas, seja pelo sentido de eternidade que parece envolver cada janela, cada porta,cada telhado da cidade..
Almoçamos e jantamos pelas imediações, tanto no almoço como no jantar uma comida típica. Uma delas teve um molho especial à base de cerveja. Existem muitos pratos com cerveja, pois a Bélgica é conhecida pela centenas de cervejarias que possui, e Bruges também tem sua cerveja, a Brugse Zot, fabricada pela De Halve Maan desde 1546.





Atualmente, o artesanato de renda domina o comércio, em toalhas, colchas, enfeites, golas de roupa, arranjos de mesa,  uma variedade enorme e  uma confecção fina, leve e elegante
Encontram-se pelas ruas mulheres rendeiras, uma tradição artesanal que vem de geração em geração desde a Idade Média. Elas passam o dia tecendo seus trabalhos de um modo  primitivo e não falam com os turistas, pois não podem tirar os olhos  dos fios de que se utilizam para compor sua peça. Na maioria são idosas e se vestem de preto. Não consegui comprar nada com elas  pois não paravam de trabalhar com aqueles fios.

                                          BRUGES  -  Foto: cadernosdeviagem.blogspot.com

A Grande Place é imponente - a Grote Markt – é  a mais famosa praça da cidade, ostentando construções medievais em excelente conservação em seus quatro lados. O turista se sente rodeado arquitetonicamente por uma profusão de cores e estilos, parecendo um mundo de sonhos que se alonga aos seus olhos, lembrando pinturas antigas, homogêneas e significativas. Na praça  encontra-se a Tour des Halles ou Beffroi, uma torre gigantesca que simboliza, segundo os manuais de turismo, o desejo de liberdade dos habitantes da Idade Média, datando do século XIII. Após subir seus 366 degraus, o turista contemplará, numa imensa vista panorâmica, toda a cidade de Bruges  em seus mínimos detalhes até os confins. Além da altura  ainda há um carrilhão com quarenta e sete sinos.




                           Pieter de Coninck e Jan Breydel,  Foto: waatp.nl


Na praça encontram-se duas estátuas de bronze em honra a Pieter de Coninck e Jan Breydel,  dois heróis populares da batalha dos “Eperons d’Or”.  A seguir, avistam-se o Palais Provincial com sua fachada em pedra branca e o prédio de la Poste. Ao norte da praça, em frente ao Beffroi, ficam, harmoniosamente dispostas,  uma série de construções pequenas com suas fachadas típicas e seus terraços impregnados de sol.  Muitas dessas casas trazem seus nomes nas fachadas. É um conjunto belíssimo e representativo, em muitas fotografias, da praça. Fazem ponto no local  as charmosas charretes para os passeios pelas ruelas da cidade. Saindo da Grande Place para chegar à Praça Burg, que é também reveladora da cidade, basta percorrer a rua Breydelstraat, que separa as duas praças.


                                         BRUGES  -   Foto:cidademedieval.blogspot.com


A Praça Burg era originariamente o centro de Bruges, onde havia uma fortaleza do Conde  Baudoin I e a igreja de  St. Donatien, que desapareceu.Enquanto na Grande Place é o  comércio que predomina, a Praça Burg é o centro administrativo da cidade.   O que chama a atenção pela sua imponência é o prédio da Prefeitura (Hôtel de Ville), um dos prédios mais antigos da Bélgica, com suas pinturas murais que focalizam em imagem os grandes momentos históricos de Bruges. O prédio da prefeitura é, realmente,  um dos pontos imperdíveis do local. Construído entre 1376 e 1420 em estilo gótico, é o prédio mais antigo da cidade com valiosos tesouros históricos. Um de seus aposentos mais famosos é a capela Heilige-Bloedbasiliek.  Há uma cripta de St. Basile acima da capela  do Saint- Sang (Basílica do Sangue Sagrado), igreja famosa por conter uma "cápsula" com gotas coaguladas, supostamente do sangue de Cristo.
Do lado esquerdo da Prefeitura descobre-se o antigo Greffe Civil, um imóvel representativo da renascença flamenga,  exibindo na fachada a data de 1537


                                         Bruges        - Foto: viagenslacoste.blogspot.com


Brugge, por ser  rodeada de canais é conhecida como  a Veneza do Norte. Resolvemos dar um passeio de barco, que é um  dos programas mais apreciados pelos visitantes. Começando nosso passeio pela “Blinde Ezelstraat”,  um antigo albergue,  penetramos nos  famosos canais que cruzam a cidade.  Como Veneza tem ruas aquáticas que são percorridas por barcos  turísticos. Nessa travessia admiramos as pontes, uma vista sobre o Beffroi, orgulho  flamengo, uma “Maison Espagnole”  com dizeres na fachada, homenageando  um poeta flamengo, uma outra vista sobre a igreja Notre-Dame e a pequena ponte de Boniface de 1910,  um busto de Juan Vives, humanista espanhol que viveu em Bruges de  1517 a 1540, um  palácio dos Senhores de Gruuthuse (que se enriqueceram com a venda de uma mistura de espécies para dar gosto à cerveja), o hospital Saint-Jean, a “ Walstraat” com suas rendeiras, um belo bebedouro para os cavalos que são usados nas ruelas da cidade,    uma casa com janelas venezianas em cristal,  o arvoredo das margens do canal, enquanto nossos olhos devoravam  as construções históricas que apareciam no trajeto, tendo ainda a visão do Museu  Groeningue, onde se encontram quadros célebres como “La madonne et  la  chanoine Joris Van der Paele”. A seguir  a ponte do Beguinage por onde se entra no interior do conjunto arquitetônico, com numerosos cisnes nadando  nas águas tranquilas do lago.( Uma lenda sobre os cisnes diz que eles protegem a cidade contra as catástrofes, que teriam sido trazidos a Bruges para vingar a morte de Pieter Lanckhals – long cou --).  Surge a ponte do Lago do Amor com uma fantástica visão da cidade.     Observei que nesse canal – Minnewater --  muitas pessoas atiravam moedas às águas. Uma supertição ? Não, diversos casais assim procediam porque a lenda diz que o canal dá  sorte aos namorados. Em agradecimento  atiram moedinhas em suas águas. Assim terminou o passeio de barco.
                                             BRUGES    Foto:  dicasdeferias.com


Conhecemos o “Beguinage”, quarteirão de casas formando um núcleo  habitacional  que é um conjunto arquitetural flamengo composto de casas, de igrejas, com espaços verdes organizados de acordo com uma concepção espacial de origem urbana ou rural e construídos em estilos específicos para a região cultural. São um testemunho excepcional da tradição das “béguines” que se desenvolveu na idade Média no norte-oeste da Europa . Imediatamente  nos veio à mente a lembrança das “béguines”,  mulheres que ali viveram no passado,  abnegadas  que consagraram suas vidas  a Deus sem se retirar do mundo.


                                          BRUGES - AS RENDEIRAS BÉGUINES



Por volta de  1225, um grupo de jovens sem recursos forma uma associação piedosa de “béguines”.para atender às suas necessidades espirituais  e materiais.  As “ béguines” usavam  “béguins” , uma espécie de coifa( chapéu), cobrindo toda a cabeça. Instalam-se perto de um curso d’água, num local isolado “La Vigne”, no exterior da cidade e ganham sua vida  como  tecelãs. Na  ocasião, a condessa de Flandre,  Marguerite de  Constantinople, passa a protegê-las em 1245, obtendo do bispo de Tournai,  a autorização para que o local em que viviam se transformasse numa paróquia independente. Sua autonomia  é amparada por um privilégio do rei Felipe, o Belo, que  manteve o Béguinage sob sua tutela direta e em 1275 o Béguinage é englobado nos limites da cidade. 








Quando se faz uma viagem desse porte é importante que se consiga ver e compreender os aspectos mais significativos da cidade, objeto da observação,  para fornecer ao nosso espírito, à nossa mente o alimento cultural  de que necessitam para sua satisfação pessoal. Ver é muito importante e saber ver é mais importante ainda, pois não se prende somente ao que os olhos captam, mas sim a tudo o que vem de dentro da gente, uma verdadeira erupção de sensação, emoção e sensibilidade diante do que é revelado pelo olhar. Posso, então, dizer que Bruges  participou dessa visualização consciente e emocional, pois saímos realizados com o que vimos.


                                          BRUGES - Lago do Amor   Foto: minube.com.br


                                            VÍDEO    BRUGES