terça-feira, 3 de abril de 2012

VIAGEM À EUROPA 1998

VIAGEM  À EUROPA  1998  (12.5.98)  -  ALPES   - 6ª.  Parte.
                            (Elsa Caravana Guelman e Izidoro Soler Guelman, Leila de Fátima Caravana Ávila e Ary Lima Filho)

SAINT TROPEZ  e  CANNES




No meio da tarde, irrompemos em St. Tropez, que fora batizada pelos Romanos de Héracléa, antes que a lenda de Torpès lhe desse seu nome atual. É arrondissement de Draguignan, que pertence ao Departamento de Var (83) da Região da Côte d’Azur. Fala-se que antigos piratas, séc.XII e XIV, saquearam St.Tropez. Após tantas invasões sofridas,em 1470, a cidade foi fortificada.
Esta cidade estava fora do nosso roteiro original, que acabava em Nice, Alpes Maritimes. Como sobrara um dia, em razão da chegada rápida em Nice, em 9.5.98, a viagem foi de improviso.Eu dei a sugestão e os outros concordaram. Levamos muito tempo na estrada até conseguir chegar ao nosso destino. A improvisação tomou muito tempo, pois não tínhamos mapas com ruas e monumentos e nem a menor indicação deles. O que fizemos foi seguir um trânsito totalmente congestionado, que nos levou até a um estacionamento, onde deixamos o carro em busca de um restaurante. Pelo adiantado da hora e, sem conhecer a localização dos restaurantes na orla marítima, almoçamos num restaurante vietnamita, também uma comida de improviso.
Por que Saint Tropez se ia nos distanciar de nosso roteiro original? A princípio ninguém se deu conta  da distância que se teria de percorrer para chegar a Saint Tropez ainda  em tempo de uma boa visita e conhecimento da cidade. O ideal seria pernoitar para poder conhecê-la, o que não seria possível em função da programação já escolhida. Só dispúnhamos de poucas horas para ver a cidade.. Sem uma orientação precisa,  ficamos perdidos no centro.
 Meu desejo de conhecer Saint Tropez era em função da vivência artística e cultural que envolvia aquela região. Primeiro, tinha curiosidade de conhecer os lugares e as pinturas dos pintores famosos que ali se estabeleceram para criar obras de renome, todas elas sobre Saint Tropez, quando a região era ainda um povoado de pescadores. Ouvira falar elogiosamente  e lera sobre os pintores Paul Signac, Henri Matisse, Bonnard, principalmente e de seus quadros. Lera que  o pintor Paul Signac ficara encantado com a luz que banha Saint-Tropez, ele animou Matisse, Bonnard e Marquet, grandes nomes do fauvismo e do pontilhismo, a virem buscar essas cores em Saint Tropez.. Artistas e intelectuais parisienses passaram desde então a frequentar a vila de pescadores. Guy de  Maupassant em 1887 descreve sua descoberta do pequeno porto da Provença e sua emoção face a tanta beleza e autenticidade. Mas a grande  época áurea da cidade começou  em verdade em 1892, com a chegada do pintor Paul Signac, que foi um dinamizador.  Sua casa em Saint-Tropez representou o centro de conversão de pintores. No verão de 1904, emprestou-a a Matisse, que lá mostrou em telas o visual do lugarejo e a Place des Lices. Na Praia de Canebiers, Matisse fez esboços que usou para pintar seu quadro Luxe, Calme et Volupté (Luxo, Calma e Volúpia).
Por volta de 1950 a 1960  era comum cruzar com Picasso, Jean-Paul Sartre ou Boris Vian passeando pelo velho porto de Saint Tropez.
Só a vinda dos pintores que coloriram a vivência pacata dos pescadores no passado, não teria permitido que a cidade irrompesse e ganhasse renome nacional e internacional. E isso ocorreu 64 anos depois.  O fato gerador foi a escolha do lugar para uma filmagem. Roger Vadin, cineasta, casado com Brigitte Bardot escolheu Saint Tropez para filmar “E Deus criou a mulher”, em que Brigitte aparece completamente nua, fato esse que redundou num grande escândalo em 1956 O escândalo sacudiu Saint Tropez e fê-la conhecida e procurada pela mundanidade.  Entretanto, antes do escândalo,  a musa do Existencialismo, Juliette Gréco conheceu Saint Tropez em 1945, por influência de Boris Vian, tornando-se amiga da  escritora Françoise Sagan com quem passou a frequentar nas férias a pacata  Saint Tropez.
Brigitte Bardot comprou uma propriedade, La Madrague,  em Saint Tropez onde vive até hoje com seu quarto marido. Recentemente foi entrevistada sobre a cidade e eis o que disse: “"Ah, comme je l'ai aimé le Saint-Tropez de mes années folles”(...) "Il n'était pas question d'argent. La Madrague n'avait pas l'eau courante, seule une citerne toujours vide. On se lavait dans la mer”(…)  “"Ma Madrague que je protège jalousement mais qui est le but des visites de bateaux touristiques, vitrine à son corps défendant d'une curiosité, d'un viol, d'une intimité qui pourtant devrait m'appartenir encore".(…) "Insidieusement, les milliardaires se sont infiltrés, les stars, les producteurs, les chanteurs, les palais de marbre ont remplacé les bastides, et les maisons de pêcheurs ont atteint des prix faramineux. Les Tropéziens ont déserté pour aller s'installer plus loin"  (…) “Les pointus(les petites barques de pêche) ont été remplacés par des yachts somptueux avec hélicoptères, les petites boutiques ont été chassées par les grandes marques de la mode internationale, les restaurants servent dans des plats d'argent la cuisine nouvelle sans goût",
E pensar que foi com ela que Saint Tropez, verdadeiramente,  ganhou esse desenvolvimento incontrolável.

Retorno ao que rapidamente ainda pude ver antes de partir.
Sua arquitetura lembrava todo o estilo da orla mediterrânea ,  um espetáculo que não poderia  deixar de ser mencionado, envolvendo os barcos, os prédios e as cores.Foram essas cores que atraíram os pintores a Saint Tropez A profusão de barcos na entrada do cais, numa mistura de cores vibrantes, tendo como fundo os tons solarentos dos prédios, assemelhava-se a uma pintura ao natural, um quadro imenso pintado que se fotografava . E  em toda a extensão do cais, havia um grande número de lojas vendendo lembranças de S. Tropez, misturadas aos bares e restaurantes ao ar livre, com suas mesas ao sol. Bastava para mim esta visão para querer pernoitar em Saint Tropez.


O tempo, de que dispunhamos, não permitiu que, andando a pé, a gente pudesse ver, além do cais,  as estátuas nas praças, o mercado (sempre convidativo em qualquer lugar), a igreja imponente em todos os cartões postais, a torre e a famosa cidadela de 1593-94, que comandava o acesso ao Golfo de St. Tropez e defendia a entrada do Porto.
De Saint-Tropez podemos dizer: “Cheguei, vi e voltei.” Mas St Tropez não é uma cidade, como muitas por que passamos, que se chega, dá uma boa olhada e pode-se voltar, certos de que o que se viu bastou, como ainda faríamos em Honfleur, mais tarde. Há ali um certo mistério nas ruelas, nas janelas das casas que precisa ser desvendado em meio ao fascínio de seu passado isto é, grego ( da comarca grega Fócida), quando ainda porto pesqueiro. É necessário embrenhar-se na cidade, sem compromissos ,até que ela mesma devolva o embrenhado, enriquecido e satisfeito de conhecimentos, porque assim se aventurou. Acredito que tenha sido essa a razão pela qual tantos artistas a procuraram no correr dos anos.

( Eu sempre imaginei St. Tropez como uma cidade de uma época e para uma época, voltada para os acontecimentos culturais e filosóficos de Paris, no apogeu dos existencialistas. Era uma espécie de esticada dos parisienses, de largada total até o litoral para um verdadeiro descanso. Não era, entretanto, um descanso para, na volta, enfrentar a luta do dia a dia, não. Era o descanso dos pensadores que, às vezes, sufocados pela estridente vida parisiense, buscavam um local onde pudessem expandir seus desejos, que, continuariam os mesmos quando regressassem. Em S. Tropez buscavam, assim, maior liberdade para uma nova maneira de pensar e viver. De Saint-Germain des Prés a St. Tropez era um pulo e a continuidade se mantinha.
Quando cheguei, era St. Tropez quem descansava. Mas tenho certeza de que, à noite, mesmo sem a afluência do passado, a cidade vive seus momentos de alegria e animação ao som das músicas de vanguarda, nas suas praças e no seu colorido cais.)
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Colhi bons argumentos sobre Saint Tropez no Blog “ passeando-pela-europa blogspot.com”:
“Saint-Tropez teve uma história variada. Foi uma fortaleza militar do século XV, uma vila de pescadores despretensiosa no início do século XX, e a primeira cidade no litoral a ser libertada durante a Segunda Guerra Mundial (como parte da Operação Dragoon). Depois da guerra, tornou-se internacionalmente conhecida como estância balneária, famosa principalmente por causa do influxo de artistas da Nouvelle Vague francesa no cinema e do movimento Yé-yé na música. Nos últimos anos, tem sido um local de eleição para o jet set europeu e americano e por hordas de turistas em busca de uma autenticidade Provençal ou o avistamento ocasional de alguma celebridade. Os habitantes de Saint-Tropez são chamados Tropéziens, e a cidade é familiarmente chamado de "St-Trop".

As Praias estão localizadas ao longo da costa na Baia de Pampelonne, também conhecida pelos moradores como Grania, que fica ao sul de Saint-Tropez e a leste de Ramatuelle. Pampelonne oferece uma colecção de praias ao longo de sua costa 5 km. Cada praia tem cerca de trinta metros de largura com a sua cabana de praia própria. Algumas das praias privadas são praias naturistas.” 
Deixamos Saint Tropez entregue ao seu passado rico e cultural, dos grandes pintores e dos grandes escritores, certos de que as mudanças ocorridas, realmente,  atingiram a vida da cidade. Não há mais Henri Matisse, Paul Signal, Charles Camoin, Henri Manguin,  Picasso e sua derradeira amada Jacqueline, Sartre e os existencialistas, Françoise Sagan e  Juliette Gréco. Colette que deixou a Bretagne em 1925 para se instalar em Saint Tropez..  Guy de Maupassant que  amou a beleza selvagem de suas praias.   Há um certo silêncio pelas ruas de Saint Tropez, enquanto no mar, nas águas,surge uma nova onda de turismo.  Os luxuosos iates ancoram  em busca de uma temporada de refúgio. Alguns  tentam localizar como roteiro turístico  a propriedade de Brigitte Bardott que sempre tenta.  se esquivar por não querer mais buscar o sucesso que a envolveu em 1956 e prefere, como uma senhora normal, ao lado do marido, cuidar e lutar pelos seus animais.
As transformações ocorridas em Saint Tropez não conseguiram ofuscar a visão charmosa do Porto com seus prédios  ensolarados, banhados pelo sol vibrante e quente – o sol do Midi – que  continuará seduzindo novos artistas.












Foto: passeando-pela-europa.blogspot.com






Nossa chegada a Cannes foi frenética. Havia um alvoroço no centro. Logo ficamos sabendo pelas faixas indicativas. Era véspera do Festival de Cinema de 1998. Ja se vivia o grande acontecimento. O clima era totalmente do cinema
De um modo geral, a gente pretendia seguir viagem com destino a Grasse, onde pernoitaríamos para, no dia seguinte, percorrer a rota dos perfumes. Mas a animação cinematográfica de Cannes logo nos contagiou. Um passeio rápido, a pé. Visitamos o Planeta Holywood. Um ambiente jovem, animado. As telas, espalhadas por todo salão, exibiam cenas de filmes num ambiente de penumbra para ressaltar o que era focalizado. O que faltava ? Que os artistas entrassem pelo salão para conversar conosco, já que, em nossa viagem, resolvemos prestigiar o acontecimento cinematográfico, chegando a Cannes no seu dia quente: véspera do festival de fama internacional..
Ficamos num hotel no centro, bem no calor do Festival, Hotel Nacional. Este hotel, por sua localização, nos permitiu passar uma noite bastante agradável. Jantamos num dos três restaurantes em frente ao Pavilhão do Festival. Toda a vida da cidade estava ali concentrada e, em tudo, havia o enfoque cinematográfico. como retratos de artistas, placas com as mãos dos astros mais conhecidos da atualidade, bem como referência aos filmes americanos, os westerns. Era o mundo fantástico do cinema europeu e americano.
Os jurados estavam sendo aguardados. O Festival de Cinema de 1998 seria presidido por Martin Scorsese e contaria, também,  com nomes conhecidos do cinema, como Chiara Mastroianni (France, Sigourney Weaver (USA) Winona Ryder (USA),Emmanuelle Béart(France) e Alain Corneau (France). Havia gente procurando Gerard Depardieu e Juan Renó no nosso restauranre. Nem sei se viriam ao Festival. O Pavilhão do Festival do Cinemal, Le Palais des Festivals e des Congres, se localiza no Boulevard de la Croisette. Na rua de la Croisette ficam os hotéis e muitos retaurantes..
No dia seguinte conhecemos a orla marítima de Cannes com suas praças ajardinadas e floridas, onde filmamos e fotografamos. Na praia, focalizamos as imensas pedras, dispostas assimetricamente e que continham as ondas do mar.

CANNES  é  uma das cidades mais badaladas da Riviera Francesa. Um dos motivos é a realização anual do Festival de Cinema de Cannes, um dos festivais de cinema mais famosos e importantes do mundo. Para a  França  a cinematografia é muito importante, tendo em vista  que foram dois franceses, Auguste e Louis Lumière (irmãos Lumière) que criaram o cinema em 1895. Há grandes incentivos para impulsionar o mercado do cinema francês, o que ocasiona   uma grande  receita gerada pelos filmes  nacionais franceses. Com isso a França tenta proteger sua cultura cinematográfica diante da corrida vertiginosa  do cinema de  Hollywood..., a  A cidade também é famosa por suas lojas de requinte e luxo, bons restaurantes e grandes hotéis.

Os lugares que, em Cannes, mais se destacam historicamente são:

La Croisette é  uma avenida beira-rio com palmeiras com praias pitorescas, restaurantes, cafés e boutiques, sendo vista  da cidade velha.  É o cartão postal de Cannes.
 Há muita coisa para ser vista, como:
 Torre Fortificada e uma Capela de St Anne para visitas
Avista-se a  Île Sainte-Marguerite onde esteve preso o Homem da Máscara de Ferro por  11 anos, podendo-se visitar sua cela . Há um Musée de la Mer com pertences de  de naufrágios.
Na Île Saint-Honorat onde habitam os monges cistercienses com seu Mosteiro em ruínas.
Há ainda o Musée d'Art et Maisons d'Histoire
Musée de la Marine, o Musée de la Photographie e
O Musée International de la Parfumerie com tuddo sobre perfumes, essências, etc...

 A Villa Eléonore Louise do Lord Brougham (uma das primeiras em Cannes) foi construída entre 1835 e 1839.
O Quartier des Anglais é o mais antigo bairro residencial em Cannes
A Villa Fiesole ( hoje Villa Domergue) desenhado por Jean-Gabriel Domergue no estilo de Fiesole( Florença).




Foto: zoevaldes.com.fr  -  Comissão julgadora do Festival de Cinema, em CANNES, maio de 1998, sob a presidência de MARTIN SCORSESE.


O filme vencedor foi  A Eternidade e um Dia (Μια αιωνιότητα και μια μέρα, Mia aioniotita kai mia mera) - Theo Angelopoulos - Grécia. Recebeu a Palma de Ouro. A Palma de Ouro (em francês Palme d’Or) é o prêmio de maior prestígio do Festival de Cinema de Cannes, criado em 1955 ao filme vencedor do Festival. A escolha anual é feita por um júri composto de profissionais internacionais ligados ao cinema, entre filmes inscritos de diversas partes do mundo, e se realiza durante o mês de maio na cidade de Cannes, na Riviera francesa.
No ano de 1968, em razão dos movimentos de revolta dos estudantes, por toda a França, o Festival foi cancelado.


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